E se ela não tivesse embarcado


Vera Spinola

Regina Léclery voou para o céu. Foi a manchete do dia 12 de julho de 1973 do famoso colunista social, Ibrahim Sued. A matéria noticiava o acidente do boeing 707 que fez pouso de emergência em uma plantação de cebolas a quatro quilômetros do aeroporto de Orly, Paris. Dentre os passageiros, o então presidente do Senado Filinto Miller; o cantor Agostinho dos Santos; a socialite Regina Léclery, apontada pelo colunista como uma das dez mais elegantes do Brasil. Aparentemente não havia sobreviventes ao acidente. A matéria terminava com ademã, bolas pretas, um bordão quando a notícia era desagradável.
Regina Léclery era uma morena de olhos verdes, de 36 anos, sedutora e fogosa. Nascida no Leme, Copacabana, era amiga de Glauber Rocha e frequentava a turma da bossa nova na casa de Nara e Danuza Leão.
Casou-se com um industrial francês, Gérard Léclery e se mudou para uma mansão na Avenue Foch, Paris. Vista de longe, sua vida parecia um conto de fadas. Frequentava o jet set internacional, passava o verão em Saint Tropez e no inverno esquiva em Zermatt, na Suíça. Em meado de 1973, voltou ao Brasil para resolver pendências. Retornaria a Paris pela Varig, dia 11 de julho, justamente no voo 820.
No Rio de Janeiro, na véspera da viagem conheceu Marcelo, um belo rapaz de 25 anos (um pão, na gíria da época), que se dispôs a levá-la ao aeroporto. Foi buscá-la em casa na Barra da Tijuca cinco horas antes decolagem do voo. A musa de Copacabana usava uma calça jeans apertada, sapatos vermelhos de bico fino e salto alto. A blusa chemise, com mangas três quartos, deixava parte dos braços à mostra. O discreto decote insinuava um belo seio. No volante Marcelo tocou levemente a coxa da carona, que se sentiu umedecida. Os olhos verdes brilharam. Será que valeria a pena ter relação com o rapaz? Porque não? Era casada com três filhas, mas estava tão distante da família que seria um encontro fugaz. Ninguém precisava saber. Pararam então em um motel e fizeram amor com voracidade. Saíram no tempo exato de pegar o voo, não fosse o engarrafamento na Avenida Niemayer e depois na Brasil a caminho do aeroporto do Galeão.
Perdendo o voo, no aeroporto remarcou a passagem para dois dias depois. Voltou ao motel onde dormiu com Marcelo, agora sem pressa.
Quando ligaram o rádio no dia seguinte, no café da manhã do motel, ouviram a notícia do acidente de avião em Paris, em seguida músicas de na voz de Agostinho dos Santos, cantando Manhã de Carnaval, depois Felicidade. O cantor foi uma das 122 vítimas fatais do desastre aéreo
Régina ouviu a notícia do acidente no voo 820. O encontro erótico salvou sua vida.

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Vera Spinola

E-mail: veramaria737@gmail.com

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